Como garantir o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores
Por Redação Mundo RH
Kelly Coelho - gerente-executiva de RH, Comunicação, Segurança do Trabalho e Facilities da SuperVia
O bem-estar no ambiente de trabalho se torna fundamental em uma sociedade em que as pessoas passam mais tempo desempenhando as funções de seus empregos do que cuidando de compromissos pessoais
Colunista Mundo RH, Kelly Coelho – gerente-executiva de RH, Comunicação, Segurança do Trabalho e Facilities da SuperVia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a saúde mental como ”um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”. Ou seja, vai muito além da ausência de doenças relacionadas a emoções e sentimentos. Debates sobre saúde mental e qualidade de vida ganharam destaque no mundo corporativo nos últimos anos, principalmente se levarmos em conta o cenário pós-pandemia. Não é novidade que a pandemia de COVID-19 teve grande impacto sobre a rotina e os hábitos dos indivíduos, principalmente naqueles relacionados ao trabalho. Empresas e colaboradores em todo o mundo tiveram que se adaptar a novos formatos em todos os âmbitos da vida pessoal e corporativa.
Uma pesquisa conduzida pela empresa Gattaz Health & Results, no final do ano passado, mostrou que 18% dos profissionais brasileiros (1 a cada 5), sofrem com a Síndrome do Burnout. Além disso, 43% relataram sintomas depressivos, com 13% tendo sido diagnosticados com a doença; e 24%, queixas relacionadas à ansiedade, embora apenas 5% oficialmente com o diagnóstico para o transtorno.
O tema é tão preocupante que a Síndrome do Burnout foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019. Segundo o Ministério da Saúde, a Síndrome é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que pode causar um estado de depressão profunda e, por isso, merece atenção. A Síndrome afeta três dimensões: a primeira é relacionada à falta de energia, a um cansaço excessivo. Em seguida, passa a ocorrer a fase chamada de despersonalização, em que o profissional sofre uma instabilidade emocional. Por fim, há como consequência um estado contínuo de insatisfação com o trabalho. A pressão por produzir mais em menos tempo é um dos principais fatores que ajudam a desencadear o Burnout, de acordo com os estudos.
Os principais fatores de risco para o quadro de doenças mentais são situações de comunicação deficiente, como falta de feedback adequado; baixa autonomia do funcionário; baixo apoio social, como conflitos entre chefes e colegas; um número elevado de demandas e uma pressão relacionada ao tempo, por exemplo, com o simultâneo aumento das responsabilidades. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a saúde mental do trabalhador está intimamente ligada à sua produtividade e ao seu desempenho. Condições que afetam negativamente o equilíbrio psíquico também refletem em alguns indicadores importantes para os recursos humanos, como o engajamento com o trabalho; comunicação com colegas de trabalho; capacidade física e funcionamento diário.
Combater os casos desses distúrbios com programas de saúde mental em empresas e o acompanhamento psicoterápico pode não apenas melhorar a qualidade de vida dos funcionários, como oferecer um retorno econômico positivo para a corporação.
Colaboradores com a saúde mental comprometida se tornam um custo muito elevado para as empresas. Todas as medidas de prevenção e tratamento desses profissionais devem ser vistas como um verdadeiro investimento. Os programas de promoção da saúde no local de trabalho podem ser muito bem-sucedidos para evitar licenças e o absenteísmo, ainda mais quando associados a medidas de cuidados com a saúde física.
Sendo assim, equipes de gestão de pessoas têm investido em estratégias para favorecer a satisfação, motivação e o engajamento com o objetivo de diminuir os casos de ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout.
A SuperVia, concessionária de trens urbanos do Rio de Janeiro, por exemplo, implementou um Núcleo de Saúde Mental após vários atendimentos realizados na área de saúde em que os indicadores dos sintomas referenciavam problemas emocionais. O núcleo é formado por um grupo multidisciplinar que tem por objetivo conhecer e, principalmente, acolher as demandas dos colaboradores relacionadas à uma saúde mental e emocional. O trabalho consiste, basicamente, em descobrir previamente se o colaborar apresenta algum sintoma de transtorno mental e iniciar prontamente o tratamento. Detectar o diagnóstico precocemente ajuda a evitar que o profissional se afaste por muito tempo de suas funções.
Entre as ações, está o trabalho de conscientização com as lideranças. O grupo realiza treinamento e workshops para capacitá-los, apresentando as técnicas da psicologia comportamental, com objetivo de ampliar a percepção dos líderes para que consigam identificar as necessidades dos colaboradores doentes emocionalmente. Outra ação foi a instalação de uma “sala de descompressão” na sede da empresa, onde os colaboradores recebem massagens e podem descansar. Além disso, o Núcleo desenvolveu a oportunidade de criar espaços acolhedores com ações que buscam gerar efeitos benéficos e terapêuticos nos colaboradores, tais como escuta ativa, interação das equipes, eliminação de comportamentos tóxicos e respeito a adversidade.
O bem-estar no ambiente de trabalho se torna fundamental em uma sociedade em que as pessoas passam mais tempo desempenhando as funções de seus empregos do que cuidando de compromissos pessoais. É preciso levar em conta que o ambiente corporativo também pode afetar a dimensão psicológica das pessoas. Conflitos e dificuldades de todos os tipos podem contribuir para prejudicar a saúde mental das equipes. Promover um ambiente de trabalho saudável é uma forma de cuidar da saúde dos colaboradores e, consequentemente, ajudar a aumentar a produtividade. Uma equipe mentalmente saudável torna-se mais vitoriosa, mais alegre e, consequentemente, melhora o ambiente de trabalho.
Entener que o cuidado da saúde mental é uma prática diária e constante é o primeiro passo para alcançar mais qualidade de vida no trabalho. Priorizar a saúde mental no trabalho é algo que requer a realização de ações coordenadas e constantes. É preciso ampliar a habilidade de fazer uma escuta qualificada e sem julgamentos, promover o acolhimento e encaminhar os colaboradores com questões de saúde mental para um atendimento especializado. Escutar e acolher são as duas palavras mágicas dessa missão.